Lira I
E o Verbo se fez poesia
que narra a história de um povo,que prediz os feitos de um novo,
que descreve a novidade em profusão.
E o Verbo se fez poesia
na mãe que cantou os prodígios onipotentes,
o pai que apresentou o menino no templo,
no pescador que seguiu um mestre.
E o Verbo se faz poesia
na vida oferecida em sacrifício,
na misteriosa transubstanciação,
no Corpo-Sangue-alimento.
E o Verbo se faz poesia
que habita o peito do simples,
que aceita a questão do culto,
que do ateu acolhe o absurdo.
E o Verbo se faz poesia
na reza simples do rosário colorido,
na fé pura do romeiro piedoso,
no olhar emocionado do cego que enxergou.
E o Verbo se faz poesia
que chora as dores do mundo,
que canta o hino das criaturas,
que exalta a beleza do divino.
Lira II
E o Verbo se fez nariz:
missionário da alegria,
ministro do sorriso,
emissário do consolo.
E o Verbo se fez nariz
que perambula por corredores pálidos,
pintando de esperança o presente sem futuro.
E o Verbo se fez nariz
que tropeça no invisível,
que brinca com o inexistente,
que toca o intangível.
E o Verbo se fez nariz
que faz da brincadeira com seu ridículo
o elo entre o finito e o Eterno.
E o Verbo se fez nariz-Coração
que alegra,
que sorri,
que consola.
Lira III
E o Verbo se fez Coração
que sofre as ingratidões,
que chora as indiferenças,
que sangra as blasfêmias.
E o Verbo se fez Coração
que sofre com o ingrato,
que chora com o indiferente,
que sangra com o blasfemo.
E o Verbo se fez Coração
que alegra o ingrato,
que presenteia o indiferente,
que cura o blasfemo.
E o Verbo se fez Coração
que acolhe o ingrato,
que escolhe o indiferente,
que elege o blasfemo.
E o Verbo se fez Coração:
humano e divino.
Humano no escolher,
divino no tocar.
Humano no acolher,
divino no curar.
Humano no eleger,
divino no transformar:
humanos em imagem do Divino.