sexta-feira, 18 de dezembro de 2009


Abraço forte - Maninho

Quando o meu abraço acaba sem sentir o teu
Sinto esse aperto dentro, forte no meu peito
E quando essa parte minha sente essa saudade

É como querer, é só relembrar

Sinto quando vejo o tempo que passou ao longe
Sinto quando lembro o que restou daquele abraço
Uma amizade acima de qualquer lugar

Mais um verso em prosa, consciência que me traz
É bom relembrar, do nosso lugar

E quando o sol nascer aqui, eu sei
Quero te ver mais, ver assim
Quando a tua voz pra mim, cantar
Abraço forte, amigo

Um dia encontrei-a em pé, na soleira de uma porta branca, com seu terço na mão. Encontrei sua alma, seu olhar, suas palavras, seu abraço...
Desde então, ela tem um lugar à soleira do meu coração, de onde espia minha alma, inspira minha sensibilidade e abraça minha essência.

Essa música sempre me lembrará você, seu olhar, suas palavras, sua essência, seu abraço de amor.

Amo-te, minha amiga rainha Regina.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009


Uma autodescrição metalinguística

Sou um ser de poucas palavras ditas e muitas palavras escritas.
Calo para sorvê-las, gestá-las e escrevê-las.
Escrevo para diluí-las, gastá-las, imprimi-las na essência de quem as lê.
Escrevo-as em muitos papéis: pequenos, grandes...cartas, bilhetes... memórias, mas elas são mais vivas em meus gestos que expressam até mais que minha voz e as letras pretas em fundo branco.
Gestos que marcam pela supresa, pela expectativa suprida ou pela deixa de previsível.
Marco porque tenho medo de ser transeunte.
Marco porque só sei ser assim. Marco porque só sei amar surpreendendo.
Há coisa mais triste que passar na vida do outro e não deixar pegadas, digitais, caligrafias?
Tenho medo de ferir, magoar, perder, mas tenho muito mais medo de ser esquecida para sempre.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O CACTO E A ROSA

Na aridez do deserto onde vivo, só a solidão e a dor são grandes companhias, embora um ingênuo passarinho sempre me diga que do céu fará cair sobre mim uma chuva de rosas.
Nem rosas nem água, apenas raios do escaldante sol caem
sobre mim: cacto triste e desencantado, afinal o que se pode esperar de bom no deserto? A menos que eu acreditasse no Jardineiro que afirma haver sempre esperança para uma árvore, pois ainda que sua raiz envelheça e seu tronco na terra venha a morrer ao cheiro das águas ela reverdece. Não sou árvore, antes tivesse tal sorte, por isso minha esperança continua adormecida.
Refletindo noturnamente sobre a profundidade do meu ensimesmamento, sinto como que se realizar a profecia do ingênuo passarinho. O Jardineiro planta, ao meu lado, uma rosa cuja imagem reflete toda a candura e fragilidade de um ser com vida. Nossos olhos não se cruzam, mas nosso silêncio é nosso olhar...nossas palavras.
Percebi que a cada madrugada, quando o orvalho vinha saciar a sede dos meus poros e hidratar o brilho rubro da bela rosa, uma pétala caía...o vento a fazia tocar meus espinhos e logo uma ferida era curada...e logo uma dor era aliviada.
Entre lágrimas e sorrisos, dor e alegria, morte e vida, espinho e pétala, o amor se fez orvalho e água para que por seu perfume eu pudesse reviver.
Somos felizes. Eu, cacto, por ter a sensível rosa – mesmo em face da minha rudeza e fealdade – arriscado se ferir pela louvável ousadia de me tocar e aliviar minha dor. Ela, delicada rosa, por estar tentando realizar a missão que lhe confiou o Jardineiro: fazer de mim, um dia, também rosa.

sábado, 28 de novembro de 2009

... elas dirão tudo ou nada

Existem dores que não se explicam com fatos, palavras, descrições ou emoções, elas simplesmente são sentidas, choradas e, às vezes, expressadas. A dor que sinto hoje é intensa, forte e verdadeira, mas não ruim...é dor de saudade...tão grande que parece que meu peito vai explodir e as lágrimas não vão parar de jorrar dos meus olhos e do meu coração.


É dor de lacuna que não se pode preencher, é dor de lembraças que não se podem reaver, é dor de momentos que não se podem reviver, é dor de erros que não se podem corrigir, é dor de encontros que não mais se realizarão. É a releitura da dor, dos escritos, das músicas, dos livros, dos momentos e da verdade.

Há dores que só os corações que sentem e vivem conseguem ter dimensão do que significam, porém há corações que conseguem comungar em plenitude dessas intensidades e inteirezas próprias de quem já provou o amor e a dor.

Se nossa amizade não tem sabor de eternidade, tem lembranças eternas.
Eu tenho raiz e estou bem aqui.



* Para alguém que na estrada está muuuuuuito longe, mas que na alma está muitíssimo perto.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Inseparáveis

Nada há que se fazer quando a noite vem.
Apenas ficam marcas de uma identidade
qual pegadas de sorrisos e brincadeiras passadas.
As luas não são mais as mesmas, não há estrelas para contar.
Não há raios, prata nem luar.
Somente um sabor de ausência
e a lacuna do que já se foi para longe...
muito além do que se possa escrever, falar ou sentir.
O frio da manhã congela o pranto do meu ser.
Branca, gélida manhã sem canto, sem cor, sem pipa.
Neve que fere e emudece a dor que grita em meu peito:
metade minha que se fez parte
metade minha que partiu
parte minha que se foi
parte minha que não está mais.
Metade minha que ainda é...
Vida a voar no meu céu...
Voz a ecoar na minha noite...
Riso a pintar o meu dia.

terça-feira, 17 de novembro de 2009


Desconserto

Despétalas.
Pólen ao vento.
Cores ao sol.
Ressequida folha.
Espinhos...somente.

Despedaços.
Peças nos cantos.
Figura ao relento.
Esquecido modelo.
Contornos...somente.
Deseterno.
Música ao longe.
Letras ao tempo.
Etéreo significado.
Lembranças em esquecimento.


Viviane Frutuoso

quarta-feira, 11 de novembro de 2009


Fotografia




Hoje o mar faz onda feito criança


No balanço calmo a gente descansa


Nessas horas dorme longe a lembrança de ser feliz




Quando a tarde toma a gente nos braços


Sopra um vento que dissolve o cansaço


É o avesso do esforço que eu faço pra ser feliz




O que vai ficar na fotografia


São os laços invisíveis que havia




As cores, figuras, motivos


O sol passando sobre os amigos


Histórias, bebidas, sorrisos


E afeto em frente ao mar.




Quando as sombras vão ficando compridas


Enchendo a casa de silêncio e preguiça


Nessas horas é que Deus deixa pistas pra eu ser feliz




E quando o dia não passar de um retrato


Colorindo de saudade o meu quarto


Só aí vou ter certeza de fato


Que eu fui feliz




(Leoni e Léo Jaime)
Uma música de saudade...uma saudade musical...uma música de esperança...uma música de certeza: sou mais feliz porque tenho em minha história marcas dos sorrisos sinceros, dos abraços carinhosos e das palavras e silêncios compartilhados com vocês: Kil,Sandrinho,Rê e Vall, meus amigos-tesouros, distantes na estrada, mas na alma muito perto.
Amo-os profundamente.

domingo, 8 de novembro de 2009

Humano amor de Deus (Pe. Fábio de Melo)

Tens o dom de ver estradas
Onde eu vejo o fim
Me convences quando falas:
Não é bem assim!
Se me esqueço, me recordas
Se não sei, me ensinas.
E se perco a direção
Vens me encontrar

Tens o dom de ouvir segredos
Mesmo se me calo
E se falo me escutas
Queres compreender

Se pela força da distância
Tu te ausentas
Pelo poder que há na saudade
Voltarás!

Quando a solidão doeu em mim
Quando o meu passado não passou por mim
Quando eu não soube compreender a vida
Tu vieste compreender por mim

Quando os meus olhos não podiam ver
Tua mão segura me ajudou a andar
Quando eu não tinha mais amor no peito
Teu amor me ajudou a amar

Quando os meus sonhos vi desmoronar
Me trouxeste outros pra recomeçar
Quando me esqueci que era alguém na vida
Teu amor veio me relembrar

Que Deus me ama
Que não estou só
Que Deus cuida de mim
Quando fala pela tua voz
E me diz: coragem!


Vall,
SER mais uma vez contigo, durante esses dias, fez-me perceber que o tempo pode até passar e a distância até pode separar as presenças, mas o sentimento que une as essências não desvanece nem morre.
Pus aqui essa música que nos une, porque após te deixar em prantos, a vontade que me deu foi de cantá-la para ti...para que tu lembres que se não sou fruto do teu ventre, sou-o de tua alma consagrada.

Amo-te, minha amiga, irmã e... por que não mãe?

quarta-feira, 4 de novembro de 2009


Primavera em mim - Parte I


A campainha tocou mais uma vez no horário habitual e meu coração, que já sofria a ansiedade da espera, se aliviou. Corri até a porta e abri-a com o mesmo semblante de surpresa. Ali estava ela a perfumar a entrada do meu apartamento, a alegrar a palidez da porta com seu amarelo inebriante.
Era desse modo que diariamente ele me dava bom dia: com uma flor amarela deixada à soleira da porta de meu apartamento. Era quase sempre de uma espécie diferente, todavia sempre amarela.
Há dois anos ele se mudara para esse prédio, porém somente após vários meses de sua chegada conheci-o, aliás encontrei-o acidentalmente na portaria. Ao cruzamos a porta do hall, nos esbarramos e, desconcertados pela situação, sussurramos um rápido pedido de desculpas, entretanto desde então passamos a nos encontrar sempre.
Até parecia que provocávamos os encontros. Sempre no mesmo horário nos encontrávamos na entrada do prédio. A freqüência era tanta que, algum tempo depois, nos apresentamos um ao outro e passamos a, vez ou outra, conversar ali mesmo, sob o olhar do porteiro que guardava não só a porta, mas também nossos gestos.
Aos poucos, fomos necessitando de mais tempo e privacidade para nos conhecermos melhor, por isso passamos a nos encontrar à tardinha em frente à gruta que existia no prédio. Ali havia um banco, embaixo de uma grande árvore, onde podíamos ficar conversando por horas, sem que ninguém nos ousasse atrapalhar.
Logo um encanto nos envolveu. Talvez por sermos dois solitários de meia-idade dividindo a vida apenas com estranhos; talvez por sermos duas pessoas marcadas por cicatrizes tão profundas que não nos permitíamos nos dar a conhecer, ou mesmo por sermos adultos ensimesmados na descoberta de um novo mundo.
Um dia lhe falei sobre meu sonho de cultivar flores, especialmente amarelas, o que lhe fez, a partir daquela confidência, saudar sempre meu dia com flores amarelas. Descobrira também minhas preferidas: os girassóis os quais, por serem mais ramosos, só apareciam à minha porta em dias especiais.
Somente dois limites nasceram ante nós: nosso passado e nosso apartamento. Nunca tocamos no primeiro nem adentramos o segundo, mas isso jamais limitou nossa cumplicidade.
O tempo nos tornou amantes, embora não vivêssemos como tal. Não precisávamos nos tocar para nos amarmos profundamente: o próprio amor já nos unira de modo indissociável. O único toque ao qual nos permitíamos era o das mãos, que pareciam unir nossas almas.
Há duas semanas, ele me convidou para um jantar à luz de velas. Surpreendentemente, no corredor que dividia nossos apartamentos, ele estendeu toalhas de bambu e sobre elas pôs pratinhos de cerâmica acompanhados de hashis. Seria um jantar japonês como há tempos me prometera.
Nessa noite, ele fez algo que nunca fizera antes. Pediu para que eu me pusesse bem à sua frente e, silenciosamente, passou a me olhar concentrado, como se estudasse cada traço do meu rosto, enquanto eu queria rir de vergonha. Lentamente, começou a tocar com delicadeza minha boca e, com seu indicador, contornar meus lábios como se os quisesse desenhar na memória ou imprimir cada pequeno sulco em sua digital.
Primavera em mim - Parte II

Acordei sozinha, ainda de madrugada, dormindo sobre as provas daquela noite inesquecível. Levantei, entrei no meu apartamento e deitei na minha cama, que somente agora me pareceu grande demais só para mim.
Na manhã seguinte, a campainha não tocou e uma flor não me deu bom dia. A priori, me preocupei, mas depois pensei que talvez houvesse dormido demais. Uma semana se passou e sua ausência começou a me preocupar. Onde estaria? Por que não me dava mais bom dia? Não havia sequer supostas respostas para tantas perguntas, visto nada conhecer sobre seu passado.
Ao fim da primeira semana de ausência, recebi uma caixinha azul-amarela com um cartão que trazia somente a seguinte mensagem: PARA VOCÊ. Dentro da caixinha uma chave identificada com uma etiqueta de número 402, o de seu apartamento. A curiosidade logo me moveu a correr à porta 402 e abri-la, contudo aquele era um limite nosso... como transpô-lo agora e sozinha? Não me contive e abri a porta.
Uma primavera me invadiu os olhos. Naquele apartamento, nada mais havia que um imenso e belo jardim. Flores de todas as espécies, sempre amarelas e, em alguns pequenos jarros, florzinhas vermelhas. Jamais imaginei o que veria ali. Até borboletas coloridas voavam, pousando aqui e acolá em alguma corola.
Ah! Nada era tão estonteante quanto os girassóis! Nem sei como sobreviviam com tão limitada visão do sol, porém acredito que o amor que a eles dedicava foi o que lhes fez viver.
Para onde ele foi? Por que me deixou sozinha e sem nenhuma explicação? Nenhuma resposta.
Todos os dias acordo bem cedo, colho uma flor amarela e ponho na minha soleira. Por volta das nove, toco a campainha da entrada de serviço do apartamento, e corro ansiosa para abrir a porta principal e receber mais uma flor amarela deixada por ele.

domingo, 25 de outubro de 2009

Reescrita


Quando me vejo, me reconheço.
Quando me reconheço, me descubro.
Quando me descubro, desenho-me
em situações, em falas,
em olhos, em expressões
do outro, do tempo;
em expressões minhas:
inteiras e intensas.
Monto parte do quebra-cabeça
e me alegro com a vitória
de Deus, do outro, do tempo...
Minha vitória!
Vitória sobre os olhos,
as expressões e as expectativas
do outro e do mundo.
Minhas expectativas!
Verdes são meus olhos,
amarelos os do outro!
Branco é o tempo
e azul o presente!
O futuro não é só uma imaginação
das possibilidades realizáveis,
mas a esperança propulsora
para o eterno recomeçar.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009


Testamento

As letras perderam sua cor no esmaecer da tela.
A melodia se calou no eco do olhar.
O bolor do ostracismo corroeu os envelopes e seus conteúdos.
Com a sépia do hoje, a fotografia da estante desapareceu
e os encartes dedicados foram maculados pelas lágrimas da saudade.
Na caixinha azul da gaveta da memória,
jaz uma rosa embalsamada.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009


Minha liberdade vermelha


Num mundo em que as máscaras possuem os mais diversos nomes e as mais variadas definições e funções, especialmente as de véus para verdades, nosso nariz vermelho, nosso pequeno coração, assume papel avesso aos moldes que damos às nossas expressões reais mascaradas, pois ele já possui seu próprio molde e sua própria função: sorriso e exposição, respectivamente.
Meu nariz, minha máscara mínima, não me esconde, do contrário, me revela. Como chave, abre a porta da realidade para que meu ser criança, escondido nas sombras do meu ser adulta, venha à tona e seja quem é: moleca, brincalhona, meio tímida, meio expansiva, completamente à vontade, meio limitada, ridícula, comportada.
Minhas roupas extravagantes, que misturam flores, listras, pinks e laranjas, mostram ao mundo que enfrento o medo de ser quem sou e não tenho vergonha das escolhas de volta ao primitivo que fiz. Primitivo que não me dava noção de cores, combinações, belezas ou feiúras, todavia me dava a certeza de ser feliz.
Meus óculos poliformes não escondem os meus míopes, porém me fazem enxergar além, muito além das aparências. Os quadrados me dão imagens emolduradas pelos limites, os redondos me fazem enxergar as janelas da alma, os que brilham alumiam as verdades observadas e os de borboleta me fazem enxergar a esperança no outro, no futuro e na alegria.
Meu nome simples, infantil e aparentemente bobo me faz presente por muito tempo na memória de quem me conhece, porque todos temos um apelido que nos fez únicos, especiais. Meu nome tem formato, cor e significado para mim e para o outro.
Meu outro ser (ou seria minha face verdadeira?) tem roupas engraçadas, óculos esquisitos, nomes curtos e um nariz vermelho revelador.
Meu outro ser tem uma data de nascimento, uma personalidade, uma história, uma vida.
Meu outro ser é livre, porque meu nariz tem um sinônimo: liberdade.