domingo, 25 de outubro de 2009

Reescrita


Quando me vejo, me reconheço.
Quando me reconheço, me descubro.
Quando me descubro, desenho-me
em situações, em falas,
em olhos, em expressões
do outro, do tempo;
em expressões minhas:
inteiras e intensas.
Monto parte do quebra-cabeça
e me alegro com a vitória
de Deus, do outro, do tempo...
Minha vitória!
Vitória sobre os olhos,
as expressões e as expectativas
do outro e do mundo.
Minhas expectativas!
Verdes são meus olhos,
amarelos os do outro!
Branco é o tempo
e azul o presente!
O futuro não é só uma imaginação
das possibilidades realizáveis,
mas a esperança propulsora
para o eterno recomeçar.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009


Testamento

As letras perderam sua cor no esmaecer da tela.
A melodia se calou no eco do olhar.
O bolor do ostracismo corroeu os envelopes e seus conteúdos.
Com a sépia do hoje, a fotografia da estante desapareceu
e os encartes dedicados foram maculados pelas lágrimas da saudade.
Na caixinha azul da gaveta da memória,
jaz uma rosa embalsamada.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009


Minha liberdade vermelha


Num mundo em que as máscaras possuem os mais diversos nomes e as mais variadas definições e funções, especialmente as de véus para verdades, nosso nariz vermelho, nosso pequeno coração, assume papel avesso aos moldes que damos às nossas expressões reais mascaradas, pois ele já possui seu próprio molde e sua própria função: sorriso e exposição, respectivamente.
Meu nariz, minha máscara mínima, não me esconde, do contrário, me revela. Como chave, abre a porta da realidade para que meu ser criança, escondido nas sombras do meu ser adulta, venha à tona e seja quem é: moleca, brincalhona, meio tímida, meio expansiva, completamente à vontade, meio limitada, ridícula, comportada.
Minhas roupas extravagantes, que misturam flores, listras, pinks e laranjas, mostram ao mundo que enfrento o medo de ser quem sou e não tenho vergonha das escolhas de volta ao primitivo que fiz. Primitivo que não me dava noção de cores, combinações, belezas ou feiúras, todavia me dava a certeza de ser feliz.
Meus óculos poliformes não escondem os meus míopes, porém me fazem enxergar além, muito além das aparências. Os quadrados me dão imagens emolduradas pelos limites, os redondos me fazem enxergar as janelas da alma, os que brilham alumiam as verdades observadas e os de borboleta me fazem enxergar a esperança no outro, no futuro e na alegria.
Meu nome simples, infantil e aparentemente bobo me faz presente por muito tempo na memória de quem me conhece, porque todos temos um apelido que nos fez únicos, especiais. Meu nome tem formato, cor e significado para mim e para o outro.
Meu outro ser (ou seria minha face verdadeira?) tem roupas engraçadas, óculos esquisitos, nomes curtos e um nariz vermelho revelador.
Meu outro ser tem uma data de nascimento, uma personalidade, uma história, uma vida.
Meu outro ser é livre, porque meu nariz tem um sinônimo: liberdade.