Na aridez do deserto onde vivo, só a solidão e a dor são grandes companhias, embora um ingênuo passarinho sempre me diga que do céu fará cair sobre mim uma chuva de rosas.
Nem rosas nem água, apenas raios do escaldante sol caem

Refletindo noturnamente sobre a profundidade do meu ensimesmamento, sinto como que se realizar a profecia do ingênuo passarinho. O Jardineiro planta, ao meu lado, uma rosa cuja imagem reflete toda a candura e fragilidade de um ser com vida. Nossos olhos não se cruzam, mas nosso silêncio é nosso olhar...nossas palavras.
Percebi que a cada madrugada, quando o orvalho vinha saciar a sede dos meus poros e hidratar o brilho rubro da bela rosa, uma pétala caía...o vento a fazia tocar meus espinhos e logo uma ferida era curada...e logo uma dor era aliviada.
Entre lágrimas e sorrisos, dor e alegria, morte e vida, espinho e pétala, o amor se fez orvalho e água para que por seu perfume eu pudesse reviver.
Somos felizes. Eu, cacto, por ter a sensível rosa – mesmo em face da minha rudeza e fealdade – arriscado se ferir pela louvável ousadia de me tocar e aliviar minha dor. Ela, delicada rosa, por estar tentando realizar a missão que lhe confiou o Jardineiro: fazer de mim, um dia, também rosa.
2 comentários:
Esse eu conheço cada palavra, cada virgula...e as entrelinhas...
O jardineiro é o autor de tudo, o passarinho continua lançando sua chuva...
O amor continua sendo orvalho...
Saudades...
bjs
"Nossos olhos não se cruzam, mas nosso silêncio é nosso olhar...nossas palavras."
Um consagrado nunca deixa de ser um eterno noivo apaixonado.... quando é mais que se prova do Amor? Quando as pétalas da rosa tocam os espinhos, e aquela dor de constrangimento rolam pelos olhos... quando percebemos que não seremos sempre espinhos, mas fazemos parte da maior e mais bela Rosa...
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